22 de jan. de 2013

Horinhas de Saudade...



Imensa saudade que rebusca a paisagem,
vem a noite, vem em dia e traz o revirar da euforia.

Almanaque de risos de chocalhos de guizos e
saudosos gemidos...
Pergunta-se:

                     - De onde ela vem? Não explica ninguém.
 
Chega rugindo, apertando e franzindo.

Ela morde a orelha e pega na beira.
Arranha o sexo, aperta sem nexo cada trilha esculpida na luz que revida e revira.

O pensamento a traz, o suspirar a clama, e a saudade reclama o alvoroço vivido...
Sem beira ela grita, fogosa e garrida, um agudo afinado que remete ao gingado de canções consumidas.

É louca e amorosa, essa saudade que engorda, que enrola, que amacia...
Decide lembrar estarrecida de toda vida engolida, deglutida e revertida em energia para fazer o corpo deslizar em compassos que só ela sabe acompanhar.

E esse corpo andando se vê a traçar, pulsar, a construir um terno conto de uma vida que clama por novas saudades insanas.

É que saudade só vem, para quem viveu além, para quem sorriu com alguém, para quem chorou bem e se deixou beijar, abraçar e uivar perspicaz.





(Arquivo pessoal: Congonhas MG - 2012)





 

15 de jan. de 2013

Horinhas de Descuido

Pequeno momento 
encurralado pelo vento 
sem polpa ou alento
sem estar atento 
rolou rio a dentro 
e sem força no momento

Nos braços do rio
petrificado com o frio
boiou no vazio
suplicou um arrepio
abraçou-se arredio
na luta sobre o rio

E por um instante
na margem distante
saltou inquietante
para um galho errante
com feitio de amante
na sedução do instante

Salvo na margem
na remota viagem
choro selvagem
impregna a folhagem
na calorosa plumagem
no limiar sem margem

Vento arrependido
Acalenta perdido
a dor do sonido
do ser envolvido
ao próprio gemido
do feitor arrependido

Mas chega a brisa
com ar de sacerdotisa
lhe veste a camisa
afasta a inquisa
se faz poetisa
e ele escolhe somente a brisa






(Foto de acervo pessoal: Pintura a óleo sobre madeira.
Painel exposto no CAPSi Contagem MG - Centro de Atenção Psicossocial Infanto Juvenil de Contagem MG
Autor: painel confeccionado por várias mãos por usuários do serviço)

OBS: Não tenho pretensão alguma em produzir algo grandioso. Fiquei observando esse painel por horas e os trechos a cima saíram. Foi um exercício visual que acabou culminando no que foi escrito. Um convite a viajar na imagem na tentativa de descrever o que foi sentido, e uma vontade imensa de que minhas mãos tivessem feito parte desse grupo na produção da obra.