14 de jun. de 2011

Descreve meus olhos, meu corpo, meu porte...

Houve um tempo em que a descoberta para a arte do desenho manifestou-se e trouxe a surpresa da capacidade de colocar através dos traços o que enxergava-se no cotidiano. Foram inúmeras gravuras formadas que hoje habitam algum lugar desse mundo, ou não habitam mais, simplesmente desapareceram. O certo é que o dom emergiu e trouxe consigo uma capacidade de olhar pelas frestas e descobrir algo maior. Então veio um convite: criar em um palco, como forma de celebração, um rosto feminino em uma tela de papel de tamanho natural. Colocar nesta tela uma expressão feminina ao mesmo tempo que uma melodia compassada e singela era tocada nas cordas de um violão sob meia luz. Desafio lançado, nervosismo posto, taquicardia instalada. Para surpresa não houve exitação ou ao menos incertezas. Aceitação imediata. A música foi apresentada e ao mesmo tempo que tal melodia ecoava pelos seus ouvidos a idéia dessa mulher foi surgindo em sua mente. Seus traços. Sua identidade. Seu jeito de sentir. Uma melodia simples, porém com letra forte onde a descrição feminina foi o marco para que o trabalho pudesse ser mostrado. O dia certo chegou, o foco de luz iluminou o suporte com a tela de papel, os primeiros acordes do violão foram dados. Pausadamente ouviu-se passos até a tela. A mão, que agora tremia, pegou no grafite alojado no suporte e iniciou-se na criação e na transfiguração dessa mulher que a cançao descrevia. A platéia estava em silêncio, o ambiente proporcionava uma acústica providencial para o contexto, onde voz e violão deixavam a mensagem a ser proferida de forma clara e precisa, ao passo que os traços dessa mulher eram erguidos no painel. A imaginação era imensa, os sentimentos exalados faziam com que os pensamentos viajassem por terras já percorridas e que no momento tranfigurava em forma de saudade. Afastou-se um pouco do painel, percebeu que essa mulher precisava de cor, pegou o bastão de cera e atreveu-se a evidenciar a boca, os olhos, trazendo para essa mulher tranfigurada para o papel a cor merecida para o momento. Ao final da melodia o registro desse autor foi cravado ao pé direito na porção inferior da obra. O momento encerrou essa modesta obra, porém de grande repercussão e dotada de sentimentos para um jovem de apenas 10 anos de idade.


(Arquivo pessoal - foto tirada em 1992 - Teatro do Colegio Imaculada Conceição - Barbacena MG)


OBS: Encontei um video no Youtube com a música descrita no texto. Não é uma grande produção, mas consolida bem a intenção de mostrar a canção que há tempos ficou em minha cabeça. Graças ao eficiente recurso tecnológico de hoje pude saber depois de tanto tempo, apenas escrevendo umas frases da melodia na internet, sobre seu compositor (Padre Zezinho). O violonista citado no texto era Rodrigo Nézio, hoje integrante da banda Duocondé Blues. (Boas lembranças!).











5 comentários:

  1. Não é preciso dizer que lindo é pouco demais para ti, cada letra uma lagrima.... bjs. Flavia

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  2. Que lindo!!! Então sua veia artística ja vem de longa data. Um beijo amore!!! Continue nos emocionando que tá tão bom!!!!

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  3. Uau!!! Não conhecia essa história!!! Linda!

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  4. Pois é minhas lindas... a vida é assim: uma caixa de surpresas...

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